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Caçar ervas marinhas em Serra Leoa

Melissa Ndure não sabia muito sobre ervas marinhas antes da sua viagem ao Senegal, para participar num workshop com o projeto ResilienSEA. De facto, a responsável do ambiente de topo da Agência de Proteção do Ambiente (APA) da Serra Leoa declara que estava mais familiarizada com as algas marinhas.

Porém, tudo mudou em março de 2018, durante a sua visita ao Senegal. “Mostraram-me todo um novo mundo”, explica Melissa Ndure.

Melissa Ndure, exploradora de ervas marinhas

Esta planta marinha subvalorizada oferece benefícios incríveis tanto às comunidades locais como ao clima global. Além de estabilizar a costa, aumentar a biodiversidade e fornecer um abrigo seguro aos peixes jovens, o que por sua vez estimula as pescas locais, esta pequena planta fixa o carbono.

No entanto, as ervas marinhas são frequentemente confundidas com as algas marinhas. Enquanto as algas se fixam a pedras ou conchas através de uma estrutura semelhante a uma raiz chamada gavinha, as ervas marinhas têm um sistema de raiz complexo que prende os sedimentos com segurança e pode armazenar carbono durante milénios. As ervas marinhas, que podem cobrir vastas áreas do fundo do mar, geralmente assemelham-se bastante às ervas encontradas na terra, mas estão mais estreitamente relacionadas com os lírios.

A ausência de compreensão e de valorização das ervas marinhas conduziu ao lançamento do projeto ResilienSEA, financiado pela Fundação MAVA. O seu objetivo consiste em efetuar a cartografia das pradarias de ervas marinhas na África Ocidental, uma região que carece seriamente de dados sobre a matéria, ao mesmo tempo que desenvolve ferramentas de gestão e capacita os governos para protegerem este precioso recurso natural.

As ervas marinhas são frequentemente ensombradas pelos mangues – arbustos ou árvores que estão adaptados à vida em água salgada e que oferecem serviços ligados aos ecossistemas semelhantes aos das ervas marinhas. Contudo, muitos cientistas de ervas marinhas estão determinados a aumentar a sensibilização e a fazer com que as pradarias de ervas marinhas sejam protegidas e conservadas em todo o mundo. Existem imensas: 160 países confirmaram a presença de ervas marinhas nas suas regiões costeiras envolventes, de acordo com um relatório global sobre ervas marinhas prestes a ser lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente e pela GRID-Arendal.

No entanto, até dezembro de 2019, esse número era de 159, já que só então foram descobertas ervas marinhas em Serra Leoa e tudo devido a um feliz acidente.

Nas semanas anteriores ao workshop do projeto da ResilienSEA em Serra Leoa, Melissa Ndure e os seus colegas começaram a dirigir-se às ilhas costeiras numa missão de busca de ervas marinhas. Porém, nenhuma dessas viagens foi bem-sucedida.

No último dia do workshop, uma equipa mais pequena, que incluía Melissa Ndure, o especialista em SIG Samuel Kamara e Maria Potouroglou, uma cientista de ervas marinhas e gestora de projeto na GRID-Arendal, encetou uma jornada de mais de quatro horas para procurar ervas marinhas em torno das Ilhas Turtle. 

Com a baixa profundidade das águas provocada pela mudança de maré, o barco ficou encalhado num banco de areia e toda a gente saiu para explorar e empurrar o barco para águas mais profundas. A princípio, a área parecia infértil, mas logo Melissa Ndure exclamou que pensara ter encontrado ervas marinhas.  

“Eu estava tão entusiasmada”, declara Melissa. “Já tinha visto ervas marinhas no Senegal, mas encontrar realmente ervas marinhas em Serra Leoa… Fiquei estupefacta”, prossegue.

De facto, esta descoberta causou um impacto tão forte em Melissa que acabou por mudar o tema da sua tese de mestrado na Universidade Njala, em Freetown, e agora planeia concentrar a sua investigação nas ervas marinhas.

Já me tinha inscrito e tinha outro tema, mas depois aconteceu tudo isto”, explica. “Disse para mim mesma: há tanto para fazer, há tantas necessidades, que penso que devo fazer alguma investigação nesta área.

Este mês, a APA da Serra Leoa irá enviar outra equipa para efetuar uma cartografia abrangente da pradaria de ervas marinhas que foi descoberta perto das Ilhas Turtle. Contudo, esta cartografia é só o começo. 

Queremos dirigir-nos primeiro às comunidades ou aldeias que estão muito próximas das ervas marinhas porque têm de conhecer o seu valor, elas não sabem nada sobre isto, pensam que são só ervas. Por isso, temos realmente de ensiná-las sobre o que lá está”, continua Melissa. “E depois passamos a Freetown para educar outras partes interessadas, especialmente as pessoas que trabalham no setor marinho.

Parte do ambiente marinho que rodeia as Ilhas Turtle é já uma área marinha protegida, mas, assim que os mapas forem produzidos, a APA saberá que quantidade das pradarias de ervas marinhas já se encontra nos limites da área protegida e se a área protegida necessita de ser alargada.

Olivia REMPEL

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Olivia Rempel é uma jornalista e realizadora de cinema que vive em Montreal, Canadá. Pode segui-la no Instagram e no Twitter

Fotografias: Rob Barnes (GRID-Arendal)

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