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O projeto ResilienSEA conclui a sua série de sessões de formação nacionais de Identificação, Cartografia e Monitorização de Espécies de Ervas Marinhas na África Ocidental

As três últimas sessões de formação nacionais foram realizadas com sucesso no Senegal, Cabo Verde e Mauritânia em fevereiro de 2020.

O projeto ResilienSEA iniciou a sua série de sessões de formação nacionais de Identificação, Cartografia e Monitorização de Espécies de Ervas Marinhas na África Ocidental na Guiné, no final de outubro de 2019. Desde então, foram realizadas sessões de formação nacionais com sucesso em Guiné-Bissau, em Serra Leoa e em Gâmbia, para que os cientistas, técnicos e gestores possam conhecer melhor as diferentes espécies de ervas marinhas presentes na África Ocidental e identificar as melhores técnicas de cartografia e monitorização a aplicar ao seu respetivo local-piloto.

Fevereiro de 2020 foi um mês intenso para a equipa do projeto. Testemunhou a realização das três últimas sessões de formação em locais selecionados: no Parque Nacional do Delta do Saloum, no Senegal, nos dias 3 a 7; na área de Gamboa na Cidade da Praia, em Cabo Verde, nos dias 10 a 14; e no Parque Nacional do Banco de Arguim, na Mauritânia, nos dias 17 a 21. As três sessões de formação foram ministradas pela Dra. Maria Potouroglou, Coordenadora de Estratégia de Investigação Científica da ResilienSEA, apoiada no Senegal e na Mauritânia pelo Sr. Mohamed Ahmed Sidi Cheikh, especialista em SIG e ervas marinhas, e em Cabo Verde pelo Prof. Salomão Bandeira, um especialista em ervas marinhas de Moçambique e membro da Rede de Ervas Marinhas do Oceano Índico Ocidental. Nos três países, os workshops foram organizados em torno dos seguintes módulos: Panorama das ervas marinhas – biologia e ecologia; Importância das ervas marinhas e ameaças; e Cartografia e monitorização das ervas marinhas. Os módulos compreendiam tanto aulas teóricas como visitas de estudo aos locais-piloto selecionados, que ofereceram aos participantes a oportunidade de aplicar o que aprenderam na sala de aula.

Parque Nacional do Delta do Saloum, Senegal, 3 a 7 de fevereiro

Pradaria de ervas marinhas no Senegal

O workshop do Senegal revelou-se especialmente bem-sucedido, não somente graças ao elevado envolvimento dos participantes, mas também, o que é muito importante, devido à descoberta de um vasto local com ervas marinhas. Situado na foz do rio Diombos no interior do Parque Nacional do Delta do Saloum, o segundo maior parque nacional do Senegal e classificado como sítio Ramsar desde 1984, onde o trabalho de campo foi desenvolvido, o local descoberto apresenta abundantes pradarias de ervas marinhas das espécies Halodule wrightiiCymodocea nodosaZostera noltii em estado saudável. A Dra. Potouroglou sublinha: “A confirmação da presença de Zostera noltii em Senegal é significativa para a comunidade global científica de ervas marinhas. Esta é uma espécie temperada, cuja distribuição fora previamente comunicada como estendendo-se da Suécia a norte à Mauritânia a sul.” Acredita-se que existam vários locais semelhantes, tanto intermareais como submareais, no Senegal, oferecendo assim um interessante campo de investigação por explorar para aprofundar os conhecimentos sobre os ecossistemas ligados às ervas marinhas e a distribuição das suas espécies.

O próximo grande passo para a equipa nacional senegalesa consiste agora em decidir qual o seu local-piloto final, a fim de começar a monitorizar as ervas marinhas assim que possível. O local na foz do rio Diombos no Parque Nacional do Delta do Saloum é considerado uma melhor opção do que o local alternativo proposto, a área marinha protegida (AMP) de Joal-Fadiouth, na qual se sabe que as pradarias de ervas marinhas submareais estão mais degradadas, devido à poluição local, mas também ao tráfego intenso das pirogas de pesca e ao impacto das suas hélices propulsoras. As pradarias de ervas marinhas na foz do rio Diombos efetivamente beneficiam de um forte estatuto de proteção jurídica do Parque Nacional do Delta do Saloum, o que não acontece com as pradarias de ervas marinhas submareais da AMP de Joal-Fadiouth. O Sr. Sidi Cheikh recomendou, assim, que fosse antes selecionado o local visitado durante o workshop de formação e monitorizadas tanto a parte intermareal como submareal das pradarias de Cymodocea, cuja condição foi considerada adequada para se tornar um local de monitorização permanente para a investigação continuada.

Visita de estudo ao Parque Nacional do Delta do Saloum, Senegal

Praia, Cabo Verde, 10 a 14 de fevereiro

O segundo workshop realizado este mês, que contou com a encorajadora proporção de 60% de mulheres no total dos participantes, teve lugar em Cabo Verde, na cidade da Praia, que fica na Baía de Gamboa, um local de elevada importância histórica. De facto, é na baía que se situa o Ilhéu de Santa Maria, por onde o naturalista, biólogo e geólogo Charles Darwin passou em 1832 durante a sua viagem para a América Latina. A Baía de Gamboa é também o único local com pradarias de ervas marinhas atualmente documentado em Cabo Verde, o que gera um sentimento de orgulho entre a comunidade costeira da cidade da Praia. Estas mesmas pradarias de ervas marinhas são, contudo, ameaçadas pela construção em curso de um complexo turístico, bem como pela poluição do sistema de drenagem e das águas residuais da cidade da Praia. Este último fator pode, de facto, já ter alterado a saúde destas pradarias, que já não podem assim ser consideradas como um local de referência intacto. No entanto, o local merece ser monitorizado a longo prazo, a fim de avaliar especificamente o impacto da poluição nas ervas marinhas.

Pradaria de ervas marinhas na Baía de Gamboa, Cabo Verde

Num registo mais positivo, o local em Gamboa é também considerado adequado para conduzir investigação aplicada relacionada com a adaptação às alterações climáticas e mitigação das mesmas, podendo assim beneficiar de iniciativas de restauração do local-piloto. No entanto, seria necessário o envolvimento das autoridades competentes, dos decisores e também da população local da cidade da Praia, sem os quais as medidas de conservação e de gestão não produziriam resultados bem-sucedidos. Nesta perspetiva, a parte teórica da formação proporcionou oportunidades para a equipa do projeto debater com os formandos a importância das ervas marinhas na política de alterações climáticas e como a sua gestão bem-sucedida pode ajudar os países a cumprirem vários compromissos e acordos internacionais, nomeadamente as Contribuições Determinadas a Nível Nacional do Acordo de Paris, as Metas de Aichi da Convenção para a Biodiversidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável num sentido mais lato. Por conseguinte, foi dedicada uma sessão inteira a detetar as diferentes abordagens à política e a formular sólidos argumentos convincentes destinados aos legisladores, desde o destaque dos vários benefícios e vantagens fornecidos pelas ervas marinhas ao crescente grau de vulnerabilidade às agressões antropogénicas a que estes ecossistemas estão expostos.

Parque Nacional do Banco de Arguim, Mauritânia, 17-21 de fevereiro

Por fim, o workshop realizado na República Islâmica da Mauritânia foi o que concluiu a série de quatro meses de sessões de formação de Identificação, Cartografia e Monitorização de Espécies de Ervas Marinhas na África Ocidental. Na Mauritânia, os participantes do workshop ficaram alojados em Iwik, uma aldeia costeira situada numa península no interior do Parque Nacional do Banco de Arguim. Ali, verificava-se uma abundância de ervas marinhas em torno do local de residência dos participantes, o que se revelou extremamente prático no que respeita às atividades de trabalho de campo quotidianas. Durante o workshop, os participantes receberam conselhos práticos úteis para os orientar no seu trabalho de monitorização futuro nos seus respetivos locais-piloto nacionais selecionados. A formação permitiu, especificamente, que a equipa da Mauritânia conseguisse identificar melhor as diferentes espécies existentes no Parque Nacional do Banco de Arguim, em especial a Halodule wrightii, que se mostrou nem sempre ser facilmente distinguível da Zostera noltii. A missão possibilitou ainda que os técnicos do Parque Nacional do Banco de Arguim explorassem as técnicas de monitorização das pradarias de ervas marinhas, que geralmente constituem um bom indicador da saúde do ambiente marinho. Além disso, tal como aconteceu no workshop de Cabo Verde, os participantes também debateram questões relacionadas com a conservação das ervas marinhas à luz do seu papel primordial na adaptação às alterações climáticas e mitigação das mesmas.

Visita de estudo ao Parque Nacional do Banco de Arguim, Mauritânia

Em linha com as atividades do ano passado, incluindo a compilação dos conjuntos de dados existentes, a equipa do projeto ResilienSEA compilou, em colaboração com todas as equipas nacionais durante os workshops, todos os dados do terreno necessários sobre a presença ou ausência de ervas marinhas. A cartografia das pradarias intermareais na Mauritânia está bastante avançada, mas a cartografia das pradarias submareais permanece numa fase ainda embrionária. Por conseguinte, foi depositada uma grande esperança nos resultados de um modelo de cartografia que está a ser atualmente desenvolvido pela nossa equipa de especialistas em teledeteção da Universidade de Duke (Carolina do Norte, EUA), pelo Centro Aeroespacial Alemão e pela Fundação para a Investigação e a Tecnologia da Grécia. O modelo de cartografia avançado que utiliza o Google Earth emprega uma gama de algoritmos globalmente utilizados na teledeteção de habitats aquáticos, em conjunto com composição de imagens e aprendizagem automática. Estas técnicas inovadoras, em combinação com dados do terreno de ervas marinhas, irão permitir o desenvolvimento dos primeiros mapas de distribuição de ervas marinhas preditivos e reais de sempre para a África Ocidental, que se tornarão publicamente disponíveis nos próximos meses.

“Durante este workshop, tive a oportunidade de visitar uma das pradarias de ervas marinhas mais límpidas e vastas que já vi na vida. A vida aquática tanto nas pradarias intermareais como submareais desenvolvia-se a bom ritmo. Além disso, foi a primeira vez nesta série de workshops que todos os formandos concordaram com o plano de cartografia e de monitorização que iriam seguir nos anos seguintes. Tal incluía definir papéis na equipa, identificar as datas, horas e locais e praticar os métodos a utilizar no terreno”, concluiu a Dra. Maria Potouroglou numa nota positiva no encerramento do workshop. Como nota final sobre a série de workshops em geral, o Sr. Sidi Cheikh concluiu, por seu lado, que “Durante esta série de workshops, aprendemos bastante com as diferentes equipas nacionais com as quais tivemos a sorte de trabalhar. As interações que tivemos com os participantes ofereceram-nos uma satisfação completa com a motivação e as competências que as equipas nacionais e as instituições parceiras possuem para serem bem-sucedidas no estabelecimento de um sistema sólido de monitorização de pradarias de ervas marinhas na África Ocidental. A equipa do projeto continuará a ouvir e solicitar comentários e sugestões das equipas nacionais, bem como a fazer balanços regulares do progresso das atividades programadas no âmbito do plano nacional adotado por cada equipa.”

Louis PILLE-SCHNEIDER

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